quinta-feira, julho 22, 2010


Não sou natural, com tantas toxinas contidas no meu corpo, no mínimo sou transgênico, híbrido, por tudo que vivi. Me plantei em tantos solos; - áridos, férteis e até mesmo alagadiços e fui colhido fora de época, pisado muitas vezes e muitas outras comido por animais. Enfrentei frio e tempestade e muito Sol à pino. Sem contar noites solitárias e escuras, com silêncios ensurdecedores...
Hoje, estou aqui com folhas queimadas, espinhos agudos e sem flores desabrochando, nem sequer um botão. Sou despercebido, ignorado, não sou mais moda, nem contemporâneo vanguardista. Apenas me restou a música quase todas me retratam e eu quase sempre as interpreto. Hoje sou sobra, não resto, sobras guardadas na geladeira, só sirvo quando alguém tem fome. Só alimento aqueles solitários na madrugada. Tenho saudade da minha cama quente, do sono profundo e dos meus sonhos de Alice. Queria ser perpétuo, ser esfinge, e não um deserto árido. Queria não estar em porta retratos empoeirados ou nas lembranças dos que me amaram ou me odiaram. Queria estar presente ou ser um presente embrulhado. (Eduardo Bruss)

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