segunda-feira, agosto 22, 2011

Grande ferida, manancial quente cicatrizando minha dor, numa arca de cólera acesa. Não vai ser a última onda a me afogar, me afogarei num mar calmo feito de lágrimas salgadas. Não esquecerei a hostilidade das suas costas largas voltada para mim no nosso naufrágio, essa será a honra sagrada do meu novo amanhecer. Recordarei dos sonhos que trazia despedaçados pelo tempo em sua poesias nuas sobre a mesa. Hoje vejo uma nudez muda, castigada pelo frio das suas ácidas palavras, corroendo não a mim mas sua mente fértil de banalidades. Não estou mais sozinho, tenho a música que sopra como vento nos meus ouvidos. Nem estou mais cego, vejo bem dentro dos seus olhos um deserto que o matará de sede. Escute o vento, sinta uma centelha de amor brotar da sua alma. Você é meu corpo e eu sua alma. (Eduardo Bruss)

terça-feira, agosto 16, 2011

Nada mudou, os móveis no mesmo lugar empoeirados pelo tempo, deixa claro que nada mudou. Uma vertigem me tomou de rosa, mar sem rosas, mar morto. Quem fui e quem eu sou? Eu não sou mais música, nem poemas de trovas. Sou a prova, sou a cova. Nada mudou, mas eu não sou mais o mesmo. Sou ternura e amargura, sou a solidão a dois. Sua morte foi um silêncio que dividiu a minha vida em dois.  Hoje o ar vazio já não chora e nem implora, ele susteve a mão que caiu de repente da altura do tempo, espalhando sílabas embaralhadas e indecifráveis. Nada mudou, mas minha permanência é de pedra e de palavras, minhas pálpebras se fecharam cheias de ásperos muros, povoadas de castelos. (Eduaro Bruss)