quarta-feira, julho 13, 2011

Arrumei a comida, mas minha cara não agradou. Então perdi o sentido e acordei no chão nu, com um lençol molhado sobre meu corpo. Não rezei ao meu Santo Homem e nem o beijei com paixão. Apenas senti seu cheiro de recém chegado do trabalho. E, com o lençol molhado que cobria meu corpo, limpei sua face. Seu suor ficou marcado no tecido como as marcas do tempo, com os dias, meses e anos vividos sem união.
O que tínhamos em comum era o sexo, não feito, mas sim postado na identidade. Idades distintas, sentimentos velados. Com muita dificuldade me ergui e com muita facilidade ergui meu copo e brindei por um dia a menos da minha vida. Reuni todas as minhas dores e não chorei, olhei ao lado e vi seu corpo estendido, olhando fixo para o nada. Eu estava invisível naquela hora e todas às minhas palavras foram dirigidas ao vento, então percebi a chuva que molhava a cortina. Fechei a janela, fechei a porta e deitado ao seu lado fechei meus olhos. (Eduardo Bruss)

terça-feira, julho 12, 2011

Por que falar da felicidade, se a felicidade me rodeia? Eu vivo a dor na minha escrita, gosto de dramas e tramas. Gesticulo o sofrimento de forma visceral. Com lágrimas faço filmes, com solidão uma novela e com a vida deixo a função de guiar meu rumo. (Eduardo Bruss)
Por um fio a vida passou, deixando sua marca no meu pescoço, como teus lábios unidos pela morte. O mais puro silêncio sepultado. E, amarrado por suas serpentes, dormia na solidão do meu palácio numa noite estabelecida salpicada pelo martírio. E então me fiz soldado, marchando por pesadelos de Évora, atravessei as dores que se enredaram em mim. (Eduardo Bruss)
Noturno amor, segue a eternidade, assume as estrelas. Estou amarrado à tua garganta. Um silencioso grito de dor ecoa e os meus lábios rompe a areia. Quero nascer em todas as suas praias e decifrar todos os seus segredos respirados. Um breve momento, uma leve sensação de prazer. Um grave pensamento constelado se apaga, impedindo que eu veja seus olhos. Restou apenas as brasas e o fogo cessou. Lembrei-me da minha infância percorrendo as estações entre os trilhos. Vivi todas estações; - Primavera, verão, outono e inverno.O amor, sem nada mais do vazio emerge e trás consigo a cólera e golpea o tempo. Infinito e interminável tempo que assombra as ruas noturnas e vazias. Bem vestido de negro seduz e faminto devora cada pedaço do meu corpo. Saciado o dia amanhece. Faz frio, amo o gelado vento que uiva, que arrepia minha pele. Noturno amor quando você voltar vou estar na estação, nas fases da lua e nas mares altas do mar que nos afoga. (Eduardo Bruss)