terça-feira, novembro 15, 2011

- Então é assim que você me define? - Como uma lacuna vazia na sua vida? - Certamente estou descartado dos seus feitos, não posso mais traduzir seus sentimentos para que você entenda o que é óbvio. Onde está toda sua volúpia quando você me despe e suga todos os meus fluídos? - Nossa vida está formada pela escolha, um dia também sonhei com a realeza, mas estar vestido com essa batina me faz próximo a Deus. E, você com toda sua crueldade queima esse meu sagrado hábito, você é meu inquisitor, meu algoz. Por que tanta tortura? - Eu realmente aceitei minha vocação, não me torture...Não me faça vê-lo como o inferno do céu que eu habito. Por hoje basta, respeite meus votos, muitos deles traídos pelos meus sentimentos secretos. (Romance da Lamparina - Eduardo Bruss)

segunda-feira, novembro 07, 2011

Estou pensando no óbvio, no que não é abstrato e tem gosto. Hoje até o vento está perfumado, com cheiro de passado, de infância roubada por esse feroz tempo que deveria passar enjaulado. Minha noite está estrelada por pessoas que amo e continuo amando mesmo que ausentes e mortas. É tão lindo ver alguém sorrir e chorar quando tem vontade. Hoje minha vontade é de maça verde, do seu corpo incandescente e de você ao meu lado. (Eduardo Bruss)

segunda-feira, outubro 31, 2011

De frente ao púlpito, balbuciei palavras perdidas, nenhum expectador podia me ouvir, não sabia onde estava minha definição de homem, de humano ou de monstro. Um silêncio pairava sobre minha cabeça e apenas freadas denunciavam o silêncio. Meu relógio parado não fez o tempo parar. O tempo vexava freneticamente, o tempo oscilava entre o mormaço e a sobra escura das nuvens. Meu amor estava entre as trevas do meus olhos cerrados de ódio. A dor já não doía, nada mais faria diferença, minha vida era vista através do reflexo de um lago turvo e sem peixes, como um olhar idoso com catarata. Li  a última carta que não postei pedido por socorro, a cada linha uma lágrima escorria dos meus olhos. Não pode ser normal alguém agir assim...um suspiro surgiu como uma última centelha de esperança. Realmente o tempo não parou, o dia estava amanhecendo e o sono brotou dentro de mim, lentamente fui adormecendo, com a esperança de ter um belo sonho. (Romance da Lamparina - Eduardo Bruss) 

terça-feira, outubro 25, 2011

Imaginário iluminado de cores, tela exposta em Roterdã. À beira do rio pesquei todas as minhas ilusões. Sombras corriam de um lado para o outro, tragadas pelo vento sem norte, sem sul e no meu maior estado de sítio, colhi carícias no pomar. Um pé de beijo tombado manchava o chão com seu batom. Colhi amoras e amores. Enterrei rancores. Refestelar também significa agouro, então não vou refestelar. Vou dormir assombrado pelas estrelas cadentes. Vou acordar dominantemente em passos leves. Quero plainar na colina e pastar com as ovelhas. No meu imaginário iluminado existe um móbile com todos os signos. Um dia sou leão, outro sou camaleão, não sei quem me rege em cada planeta que habito. Eu apenas quero vagar, sem rumo, quero beber absinto e comer seu corpo, cada pedacinho do seu sexo explicito quero sentir na minha boca. Quero ser possuído pelos seus demônios de Deva e imortalizar meu nome numa caverna escondida e ser enterrado dentro de cada um que me ama. (Eduardo Bruss)
Hoje estou plural, mesmo estando sozinho. Sinto uma certa singularidade nos plurais. Hoje estou anoitecendo calado e o frio me consola. Hoje ainda quero sentir o isolamento da massa. Hoje vou dormir sozinho...mesmo com toda minha pluralidade expandida. (Eduardo Bruss)

sexta-feira, outubro 14, 2011

É difícil suprir alguém quando suas tulhas estão vazias. O único suprimento que ainda carrego comigo é o oxigênio que respiro, mesmo assim, com a minha alta altitude do estado de nervos, o ar que respiro encontra-se rarefeito. Todas às vezes que você me pede para supri-lo eu me suprimo, degolo minha voz presa na garganta e rego minha vida com lágrimas desidratadas. O QUE REALMENTE VOCÊ QUER DE MIM? - Não há mais o que te dar além das minhas falanges, além dos meus dedos e das minhas mãos. Sem minhas mãos não poderei afagá-lo das suas frustrações e nem banhá-lo nos seus devaneios e delírios. - O QUE EU QUERO DE VOCÊ? - Nada, você não me permite a isso, não escolho, sou escolhido como roupas guardadas em gavetas, que sempre tenta esconder sua nudez de valores, que não existem. Não tenho mais a palavra e nem o domínio sobre sua pessoa. O que me restou foi apenas a escrita com mãos trêmulas, que tento esboçar nos meus sonhos. Há quanto tempo você não me vê completamente nu? O que há de errado com a minha nudez? Meu corpo é perfeito, com marcas e cicatrizes deixadas pela sua estupidez. Vivemos em dois planos distintos. Para você eu não sou mais físico. Sou um fantasma que não assombra. Por isso, não me peça mais para supri-lo, não sei mais como fazer isso. Não sei mais o gosto da sua boca, não sei se você é realidade ou apenas uma obsessão que me permeia. Na verdade não sei mais quem eu sou... (Eduardo Bruss) -  Trecho do Romance da Lamparina 

segunda-feira, outubro 10, 2011

NATURAL

Natural, assim se fez sua partida, fingi que sorria, enquanto uma tempestade de lágrimas me inundava por dentro. Ao ver seu avião partir, percebi que eu também precisar alçar voo, tomar um rumo na minha vida e deixar de viver o que estava concretamente acabado. Acreditamos em tudo quando estamos completamente sós , a gente se ilude com qualquer vã esperança imaginada. No caminho de volta, ouvi mais uma vez a "nossa" música, aquela que só eu curtia. Sem perceber embriagado pelos pensamentos já estava a 140km/h, o vento batia em meu rosto e secava minhas lágrimas que escorriam. Fiquei imaginando por que só eu chorava. Ninguém havia morrido por que então carrear um luto dentro do peito? Parei no acostamento e acendi um cigarro. Contei quantos carros vermelhos passaram na estrada, foi quando percebi que o dia já havia terminado e a noite começava a cobrir o céu. Ao chegar em casa, tomei um banho demorado, tomei uma dose de vodka e tomei o que me era de direito, tirando todas as nossas fotos dos porta-retratos. Fiz da nossa casa algo minimalista, removendo tudo o que me lembrava você. Só não conseguir apagar aquela poesia da Adélia Prado - Amor feinho, que estava escrita na parede com esferográfica. Eu quero amor feinho... (Eduardo Bruss)

quinta-feira, outubro 06, 2011

Já fiz tanto sexo explícito com palavras, algumas que feriram, outras que acalentaram e muitas outras que foram anônimas....cada uma com um tipo de orgasmo diferente...por isso que adoro gozar a vida.....mesmo que seja numa breve e redundante ejaculação precoce....(Eduardo Bruss)

segunda-feira, agosto 22, 2011

Grande ferida, manancial quente cicatrizando minha dor, numa arca de cólera acesa. Não vai ser a última onda a me afogar, me afogarei num mar calmo feito de lágrimas salgadas. Não esquecerei a hostilidade das suas costas largas voltada para mim no nosso naufrágio, essa será a honra sagrada do meu novo amanhecer. Recordarei dos sonhos que trazia despedaçados pelo tempo em sua poesias nuas sobre a mesa. Hoje vejo uma nudez muda, castigada pelo frio das suas ácidas palavras, corroendo não a mim mas sua mente fértil de banalidades. Não estou mais sozinho, tenho a música que sopra como vento nos meus ouvidos. Nem estou mais cego, vejo bem dentro dos seus olhos um deserto que o matará de sede. Escute o vento, sinta uma centelha de amor brotar da sua alma. Você é meu corpo e eu sua alma. (Eduardo Bruss)

terça-feira, agosto 16, 2011

Nada mudou, os móveis no mesmo lugar empoeirados pelo tempo, deixa claro que nada mudou. Uma vertigem me tomou de rosa, mar sem rosas, mar morto. Quem fui e quem eu sou? Eu não sou mais música, nem poemas de trovas. Sou a prova, sou a cova. Nada mudou, mas eu não sou mais o mesmo. Sou ternura e amargura, sou a solidão a dois. Sua morte foi um silêncio que dividiu a minha vida em dois.  Hoje o ar vazio já não chora e nem implora, ele susteve a mão que caiu de repente da altura do tempo, espalhando sílabas embaralhadas e indecifráveis. Nada mudou, mas minha permanência é de pedra e de palavras, minhas pálpebras se fecharam cheias de ásperos muros, povoadas de castelos. (Eduaro Bruss)

quarta-feira, julho 13, 2011

Arrumei a comida, mas minha cara não agradou. Então perdi o sentido e acordei no chão nu, com um lençol molhado sobre meu corpo. Não rezei ao meu Santo Homem e nem o beijei com paixão. Apenas senti seu cheiro de recém chegado do trabalho. E, com o lençol molhado que cobria meu corpo, limpei sua face. Seu suor ficou marcado no tecido como as marcas do tempo, com os dias, meses e anos vividos sem união.
O que tínhamos em comum era o sexo, não feito, mas sim postado na identidade. Idades distintas, sentimentos velados. Com muita dificuldade me ergui e com muita facilidade ergui meu copo e brindei por um dia a menos da minha vida. Reuni todas as minhas dores e não chorei, olhei ao lado e vi seu corpo estendido, olhando fixo para o nada. Eu estava invisível naquela hora e todas às minhas palavras foram dirigidas ao vento, então percebi a chuva que molhava a cortina. Fechei a janela, fechei a porta e deitado ao seu lado fechei meus olhos. (Eduardo Bruss)

terça-feira, julho 12, 2011

Por que falar da felicidade, se a felicidade me rodeia? Eu vivo a dor na minha escrita, gosto de dramas e tramas. Gesticulo o sofrimento de forma visceral. Com lágrimas faço filmes, com solidão uma novela e com a vida deixo a função de guiar meu rumo. (Eduardo Bruss)
Por um fio a vida passou, deixando sua marca no meu pescoço, como teus lábios unidos pela morte. O mais puro silêncio sepultado. E, amarrado por suas serpentes, dormia na solidão do meu palácio numa noite estabelecida salpicada pelo martírio. E então me fiz soldado, marchando por pesadelos de Évora, atravessei as dores que se enredaram em mim. (Eduardo Bruss)
Noturno amor, segue a eternidade, assume as estrelas. Estou amarrado à tua garganta. Um silencioso grito de dor ecoa e os meus lábios rompe a areia. Quero nascer em todas as suas praias e decifrar todos os seus segredos respirados. Um breve momento, uma leve sensação de prazer. Um grave pensamento constelado se apaga, impedindo que eu veja seus olhos. Restou apenas as brasas e o fogo cessou. Lembrei-me da minha infância percorrendo as estações entre os trilhos. Vivi todas estações; - Primavera, verão, outono e inverno.O amor, sem nada mais do vazio emerge e trás consigo a cólera e golpea o tempo. Infinito e interminável tempo que assombra as ruas noturnas e vazias. Bem vestido de negro seduz e faminto devora cada pedaço do meu corpo. Saciado o dia amanhece. Faz frio, amo o gelado vento que uiva, que arrepia minha pele. Noturno amor quando você voltar vou estar na estação, nas fases da lua e nas mares altas do mar que nos afoga. (Eduardo Bruss)